Em setembro do ano passado a ADEP-MS (Associação das Defensoras e Defensores Públicos de Mato Grosso do Sul) completou 37 anos. Uma história marcada por muitas lutas, conquistas e pessoas que fizeram a Associação se tornar o que é hoje: uma instituição que representa e promove dentre todos os meios, a defesa, direitos e interesses individuais ou coletivos da classe. Ao longo desses anos, 11 defensores públicos passaram pela presidência e, desse total, apenas três são mulheres.
Suely Pletz Neder é defensora pública aposentada do Mato Grosso do Sul. Ela foi a primeira classificada no primeiro concurso público de provas e títulos para o cargo de Assistente Judiciário do Estado de Mato Grosso do Sul, depois nominado defensor público. Além disso, foi a fundadora e presidente da ADEP-MS no período de 1983 a 1985.
Também foi a primeira mulher presidente da Federação Nacional dos Defensores Públicos (FENADEP), atualmente Associação Nacional das Defensoras e dos Defensores Públicos (ANADEP), de 1986 a 1990. O período marca um dos momentos mais importantes da Defensoria Pública, quando a Instituição foi inserida no texto da Constituição Federal de 1988.
Durante todo esse período, a defensora pública relata que nunca sofreu qualquer tipo de discriminação pelo fato de ser mulher, pois o país atravessava uma reabertura democrática de conquistas dos direitos humanos e dos direitos civis em que as mulheres estavam incluídas. “A ocupação feminina ocorrerá por uma integração política. Durante muito tempo nós fomos caladas, antes nem podíamos votar. Então podemos perceber o quanto as coisas mudaram nesses anos, ora avançando, ora retrocedendo”, opina.
24 anos depois
Após a gestão da defensora pública Suely Neder, apenas em 2009 outra mulher assumiu a presidência da Associação, sendo ela a Dra. Mônica Maria De Salvo Fontoura, que irá completar 25 anos de associada.
Em seu ponto de vista, o tempo que permaneceu à frente da ADEP-MS foi extremamente frutífero e produtivo, mesmo passando por dificuldades e preconceitos. “Infelizmente ouvi alguns insultos por ser presidente/mulher, vindos de homens insatisfeitos com nossas vitórias, ou que se sentiam incomodados com nossos trabalhos em benefício da Classe. Mas não me detive por causa disso. Ao contrário. Tive ainda mais vontade de trabalhar, com muita honra e disposição por aquela maioria expressiva que me escolheu por duas vezes para representá-la. E verdade seja dita: também recebi muitos elogios, dentro e fora da Instituição, pelo fato de ser presidente/mulher, ao que sou extremamente grata”.
Para ela, é de suma importância a participação feminina em cargos de poder. “A mulher tem força, vigor, poder e sensibilidade para administrar/gerir com eficiência, além de possuir visão bastante abrangente e revolucionária dos aspectos aparentemente ‘comuns’. A visão feminina foca onde a sociedade não está acostumada a focar, sem medo de ser ‘diferente’ e é justamente essa ‘diferença’ que torna as coisas estáticas mais modernas e adaptáveis às necessidades atuais. Mas, independentemente de o cargo de poder ser preenchido por mulher, mister se faz que seja pessoa com coragem de galgar os mais altos patamares e de encarar os problemas de frente para resolvê-los. Afinal, é a efetiva proteção de seus membros que garante a força e a vida da nossa Associação”, ressalta a defensora Pública Mônica Fontoura.
Atual gestão
Apenas 11 anos depois, outra mulher assume o cargo de presidente da associação. Empossada em junho de 2020, a defensora pública Linda Maria Silva Costa segue seu mandato firme e forte, mesmo diante de uma pandemia que afeta o país.
Na perspectiva de Linda, como mulher e presidente, as questões que envolvem a diferenciação e o preconceito não têm relação com o gênero, mas sim com a atuação profissional. “O que eu percebo é que um olhar feminino, de mais humanização, sofre um certo preconceito no sentido de não ser aguerrido, de não ser uma situação de luta e de enfrentamento, mas é um preconceito muito mais voltado para a atuação do que propriamente pelo gênero”.
A presidente enxerga que o atual projeto para a associação é a necessidade de maior união. É preciso trabalhar este ponto para que se possa alcançar mais espaço, mais demandas e valorização da carreira. “É necessário que os colegas repensem sobre a associação como um local sem gênero, onde o defensor público deve ser honrado com sua valia como ser humano, independente da classe na carreira, para que juntos possamos alçar maiores voos, plenitude da instituição e vitórias em causas políticas para se obter o tão merecido reconhecimento que a instituição ainda não alcançou”, aponta.
“Meu proposito enquanto atual presidente da ADEP-MS é fazer esse resgate de valores, dar ao colega associado o brilho e a honradez pelo trabalho prestado por anos e que vem sendo prestado no dia a dia para a instituição e, se possível, retornar e resgatar a união que construiu a associação, pois a ADEP-MS não nasceu do esforço de dois, ela nasceu do esforço de todos. Temos um objetivo a ser cumprido e um futuro para ser galgado”, finaliza.