Celebrar o Dia Internacional da Mulher vai além de presentes e frases bonitas. A data vem como um marco na história da luta pelos direitos femininos. Atos esses que começaram no início do século 20 e, se pararmos para analisar, continuam até hoje. Naquela época, mulheres do mundo todo passaram a reivindicar por melhores condições de trabalho, regularização de cargos, aumento salarial, direito ao voto, guarda dos filhos e muitas outras lutas.
O Dia 8 de março foi oficializado como o Dia Internacional da Mulher pela ONU (organização das Nações Unidas) em 1975, mas até este ato, foram anos de protestos e manifestações para que conquistas sociais, políticas e econômicas pudessem acontecer.
De acordo com a Defensora Pública Linda Maria Silva Costa, presidente da ADEP-MS (Associação das Defensoras e Defensores Públicos de Mato Grosso do Sul), a luta por direitos continua até os dias atuais. “Vivemos numa sociedade que ainda é vista como patriarcal. A violência doméstica, por exemplo, é algo que infelizmente acontece muito no contexto de um relacionamento íntimo ou até mesmo dentro do ambiente familiar. De forma geral, muitas ainda sofrem pelo simples fato de serem mulheres e para lidar com essas situações, precisamos de leis rígidas que visem quebrar o machismo enraizado na população”, afirma.
Para Thaís Dominato Silva Teixeira, Defensora Pública, Coordenadora do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) e integrante da Comissão ADEP-MS Mulher, a violência contra a mulher “é uma disseminação mundial e, por isso, dizemos que atualmente vivemos uma pandemia dentro de outra pandemia com medos duplicados”.
Conforme explica a profissional, a origem dos fatos vem das desigualdades entre os gêneros feminino e masculino, da construção social em que a sociedade ainda acha que as mulheres têm papéis de importância inferior aos homens e que quando não cumpridos ocasiona a violência.
“Não é incomum enfrentarmos nas audiências, nas varas de violência doméstica, processos nos quais as mulheres foram agredidas pelos maridos, companheiros, namorados porque a marmita do almoço não estava lavada; porque os filhos estavam fazendo bagunça na sala; porque ela resolveu estudar e trabalhar fora; porque ela terminou aquele relacionamento e começou a se relacionar com outra pessoa e escutou do namorado que se não fosse dele não seria de mais ninguém e assim por diante. A violência doméstica em regra acontece quando a mulher se comporta da maneira como não era esperada para uma mulher nessa sociedade patriarcal”, explica a Defensora Pública Thaís Dominato.
Mercado de trabalho
A Pesquisa Profissionais da Catho de 2019 aponta que, mesmo com maior grau de escolaridade, as mulheres ganham menos que homens. O fato de a formação profissional ser um dos mais importantes pilares para a ascensão na carreira e, por consequência, para o aumento de salários e demais benefícios, fica claro que há um descompasso significativo
Os dados do levantamento indicam que, apesar da acirrada disputa, as mulheres saem na frente no recorte de nível superior e pós-graduação completo. Conforme a pesquisa, 30% das mulheres possuem nível superior e pós-graduação, enquanto homens são 24%. Mesmo assim, eles podem chegar a ganhar até 52% a mais que elas exercendo uma mesma função.
São nas ocupações de profissional especialista e graduado que as remunerações por gênero mais se distanciam, seguidos de profissional especialista técnico com 47% de diferença.
Em outras posições que costumam ter mais participação de mulheres, a diferença salarial tem menor expressividade. As mulheres ocupam 66% dos cargos de assistente e/ou auxiliar e a diferença salarial é de 8%. Já em relação aos cargos de analista, 53% são ocupados por mulheres e a diferença salarial é de 14%. (Dados retirados de catho.com.br – carreira e sucesso)
É possível mudar o cenário?
Assim como o preconceito, a desigualdade, a violência e outros temas, a mudança só chegará a partir da educação e da reforma cultural, ressalta a Defensora Pública. A sociedade precisa aprender a ser e a dar bons exemplos, principalmente para as crianças.
“Precisamos mostrar que a divisão de tarefas em casa, de brinquedos, de cores de roupas e de papéis sociais só servem para contribuir para a perpetuação da desigualdade e da inferiorização das mulheres. A raiz da violência, a causa dos feminicídios, vem do machismo enraizado na educação dos meninos que ainda crescem com a perspectiva de que as mulheres são suas propriedades. Não haverá leis, processos ou prisões suficientes se não houver mudança cultural e isso, sabe-se, levará muito tempo e somente virá como resultado de um trabalho constante e duradouro”, finaliza.